01/02/2012

Afastados já chegam a 16, "limpa" é tida como mal necessário.

Para analistas, Dilma Rousseff age com rapidez, mas perfil de gestora pode gerar mais atritos com a base aliada.

Mais três pessoas foram demitidas ontem por causa das denúncias de superfaturamento e corrupção no Ministério dos Transportes - um funcionário da própria pasta e outros dois da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S/A. O número de pessoas que já foram exoneradas ou afastadas desde o início de crise chegou a 16, e vai aumentar ainda mais. Pelo menos mais uma demissão já é esperada: a de Hideraldo Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária, ligado ao PT. Para analistas, a "limpa" no ministério causa atritos na governabilidade, mas é fundamental.

Do Ministério dos Transportes foi exonerado ontem, a pedido, Eduardo Lopes, que tinha cargo comissionado e é ligado ao secretário-geral da PR, Valdemar Costa Neto (SP). Da Valec - órgão público que executa as obras ferroviárias do governo federal - foram exonerados Cleilson Gadelha Queiroz, gerente de Licitações e Contratos, e Pedro Ivan Guimarães Rogedo, que tinha cargo comissionado de assessor.

Gadelha é dono da FC Transportes, empresa com sede em Brasília, que faz transporte de materiais. O governo investiga suspeita de que a empresa seria subcontratada de empreiteiras com contratos públicos. Desde o início da semana, Gadelha estava na mira do Palácio do Planalto.

Na terça-feira (19), o governo já havia exonerado outros seis servidores, alguns deles ligados ao ex-ministro Alfredo Nascimento - um dos primeiros a cair - e ao deputado Valdemar Santos Neto (PR-SP). O diretor-geral do Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, já foi afastado, mas oficialmente continua no cargo, pois está de férias.

Agilidade

Para os analistas ouvidos pela Agência Estado, a ampla base aliada e a consequente disputa por espaço no governo obriga a presidente Dilma Rousseff (PT) a agir rapidamente e impor critérios técnicos para as indicações de cargos no Planalto. Se por um lado o estilo da presidente pode incomodar os aliados, a petista pode sair mais fortalecida com o apoio da opinião pública. "Esse apoio pode blindá-la de alguma forma, mas ela precisa tomar cuidado porque a base pode se desgastar", avaliou o cientista político e professor do Insper Carlos Melo.

Os analistas concordam que, ao tomar medidas drásticas na pasta, a presidente tenta não repetir a crise que se arrastou por quase um mês no episódio envolvendo o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci. "Ela está dando respostas rápidas para não perder o embate com a opinião pública, principalmente com a classe média, que é um setor sensível a essas questões", disse o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, pesquisador da PUC e FGV de São Paulo.

Para Carlos Melo, a crise vivida no governo Dilma indica o fracasso do modelo de presidencialismo de coalizão que vem desde o governo José Sarney, onde o presidente tem a maioria no Congresso e distribui os cargos entre os aliados. "Ou a presidente parte para um rearranjo ou vai ficar administrando conflitos na base o tempo todo", afirmou.

Na opinião do cientista político Rubens Figueiredo, o país agora tem uma administradora que age de forma republicana, ao contrário de Luiz Inácio Lula da Silva. "Ela está agindo da maneira correta, como um presidente republicano agiria. Há muito tempo, denúncias nos meios de comunicação não tinham consequências. Com Dilma, as coisas voltaram ao seu curso normal", elogiou.

Atrito na base

Por outro lado, a "limpa" pode prejudicar a relação entre governo e sua base, uma vez que a presidente não tem o perfil contemporizador. "Nem tudo que faz bem para o país é bom para o governo", alertou Figueiredo. Com uma base aliada tão ampla, os cientistas políticos preveem mais embates e novas oportunidades de Dilma








   
   
   
   
   
   
   

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