Troca de e-mails entre médicos revela falhas em hospital do Rio
Uma troca de e-mails entre médicos do Hospital municipal Souza Aguiar,
no Centro do Rio, revelou detalhes da rotina dos profissionais do Centro
de Tratamento Intenso (CTI) da unidade. Nas mensagens, enviadas a um
grupo de médicos, eles falam sobre erros e até certos critérios para a
internação de pacientes no CTI do hospital, conforme mostrou o
jornal da Globo.
O caso foi revelado após a morte do fotógrafo húngaro Andreas Palluch,
radicado no Brasil. Ele morreu na quarta-feira passada depois de ficar
mais de um mês à espera de uma cirurgia. O caso do fotógrafo também está
entre os assuntos discutidos nos e-mails.
A troca de mensagens começou em fevereiro de 2010 para tratar de
assuntos do CTI. As conversas deveriam ficar restritas ao grupo, nomeado
"CTI 3º andar", mas até a noite de segunda-feira (9) qualquer
internauta tinha acesso.
Em uma das mensagens, o responsável pelo CTI pede aos médicos que
tenham critério na escolha dos pacientes que serão internados no CTI
adulto do hospital. No e-mail, o médico diz que a recomendação é para
que as vagas sejam preenchidas rapidamente para evitar transferências
externas, principalmente de pacientes em estado grave e "moribundos"
originários das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Os médicos também falam sobre as falhas no setor. Um deles comenta a
falta de enfermeiros durante o plantão. Ele informa que uma paciente tem
uma doença infecciosa, mas o isolamento não é feito da forma adequada,
com risco de contaminação. Outra mensagem chama atenção para um objeto
metálico esquecido dentro do corpo de um paciente. Ele ressalta que,
"felizmente", o descuido tinha sido descoberto antes de o corpo seguir
para o IML.
Fotógrafo esperou um mês por cirurgia
Andreas Palluch foi vítima de um assalto no dia 17 de fevereiro,
sexta-feira de carnaval. Ele teria sido levado por um policial para o
Hospital Souza Aguiar, mas não há um boletim de ocorrência. A vítima
ficou um mês internada à espera de uma cirurgia, e familiares
pressionaram o hospital para que uma providência fosse tomada.
A situação foi comentada em outra troca de e-mails entre os médicos do
hospital. Nas mensagens, o responsável pelo CTI diz que a família tem se
mostrado "problemática" e confirma a remarcação da cirurgia por causa
do erro de um fornecedor na entrega do material. O texto diz ainda que
não há uma definição sobre os responsáveis pelo paciente e pede para que
nenhum privilégio seja concedido à família.
“A gente em nenhum momento pediu privilégio. O que nós pedimos foi
informação. Eu quero ser informada quando ele vai ser operado. ‘Ah,
aparece aí! ’ Isso não é forma de tratar uma família”, relatou a filha
do fotógrafo, Andrea Palluch.
Ela conta ainda que o hospital publicou notas informando que o pai dela
morreu por causa de ferimentos decorrentes da agressão que sofreu. “Ele
não tinha ferimento externo corporal algum. Ele teve sim uma lesão na
coluna”, explicou, ressaltando que o hospital disse que a família foi
muito bem atendida. “Isso não posso confirmar”, finalizou.
Hospital diz que família teve toda a assistência
Em nota, a Secretaria municipal de Saúde informou que o fotógrafo
Andreas Palluch deu entrada no hospital com estado de saúde muito grave,
não tendo condições clínicas para ser submetido à cirurgia. Apenas após
a estabilização do quadro, o paciente pôde ser operado. Ainda segundo a
secretaria, os familiares receberam toda a assistência necessária. Eles
também tiveram acesso a uma cópia do prontuário com todas as
informações sobre o paciente.
Sobre a ocupação das vagas no CTI do Souza Aguiar, a secretaria
esclareceu que a regulação dos leitos é feita com uma central que
trabalha diretamente com a unidade.